segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Que legado queremos com o trabalho voluntário?

De acordo com a definição da ONU, o voluntário é o jovem ou adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social ou outros campos. Eu, particularmente, acho essa visão muito romântica e bonitinha. Voluntariado vai além de espírito cívico e de bem estar social.

Trago essa questão à tona mesmo já tendo escrito aqui sobre o tema, pois ao conhecer o projeto olímpico de Londres, soube como será realizado o voluntariado para os Jogos de 2012. A luz amarela acendeu. Pergunto: qual o business do McDonald’s? Para mim é serviço rápido de alimentação. E sabe qual vai ser a empresa que vai cuidar da gestão de voluntariado das olimpíadas londrinas? Bingo.

Numa concorrência feita com outras empresas, o McDonald’s, cujo negócio é preparar e vender fast food, alegou ter know-how para tal empreitada, pois comparou o ato de ser voluntário ao ato de vender sanduíche. E convenceu o comitê organizador de que isso era o suficiente para capacitar e gerenciar 15 mil pessoas que vão doar tempo a um objetivo tão importante. À parte da definição dada pela ONU, que eu acho bem superficial, pergunto: para vocês que estão lendo esse texto, o que é ser voluntário?

Se concordarmos/aceitarmos que voluntariado se equivale a vender sanduíche, em primeiro lugar estaremos reduzindo o valor do trabalho voluntário. Ele se restringirá a uma atividade meramente operacional e de baixa qualificação. Sem contar que não proporcionará nenhum tipo de legado para as pessoas que se disponibilizarem a doar seu tempo para uma causa que acreditam.

Trazendo essa visão para a realidade brasileira e para a Rio-2016, corremos o risco de perder uma grande oportunidade com o voluntariado olímpico. Se bem trabalhado, esse voluntariado tem plenas condições de servir como plataforma de qualificação de jovens e adultos com pouco acesso a capacitação e emprego. E aí, o que, inicialmente, poderia ser mera realização de um sonho, pode, perfeitamente, transformar a vida de pessoas que realmente precisam.

Vale informar que o McDonald’s, como sponsor do COI/Olimpíadas desde 1976, tem toda boa vontade dos comitês locais ao entrar em uma concorrência. Não estou acusando ninguém de corrupção, mas não sou inocente em achar que os concorrentes lutam em igualdade de condições. Vale informar, também, que esse contrato firmado com o comitê organizador de Londres-2012 não é uma ação voluntária; mesmo como sponsor, o McDonald’s não está repassando, voluntariamente, o seu know-how de atendimento. Ele está sendo devidamente pago, o que, a meu ver, configura conflito de interesses.

Enfim, Londres-2012 problema dos ingleses. Mas tenho certeza de que o McDonald’s vai querer repetir o modelo aqui no Brasil. E é aí que nós, sociedade, nós, formadores de opinião, entramos para não deixar que isso não aconteça. E digo não apenas por questões de ética e transparência, mas por ficar clara a oportunidade que podemos perder. Ou após a realização dos nossos jogos vamos querer como legado 15 mil vendedores de sanduíches?

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