segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A engenharia facilitando a inserção de deficientes no mercado de trabalho

Para galera de engenharia, principalmente de produção, o termo não é desconhecido, mas pergunto: vocês sabem o que é poka-yoke? É um dispositivo cuja finalidade é evitar a ocorrência de defeitos nos processos de fabricação ou na utilização de produtos, assegurando a qualidade e reduzindo custos de produção. Muito dele vem da intuição e por isso na maioria das vezes sua aplicação é simples e pouco onerosa. Sabe o plug do teclado ser roxo e do mouse verde para que a gente, instintivamente, os conecte no lugar certo? Isto é poka-yoke.

Termo explicado, vamos ao assunto do título. Se fizermos uma pesquisa com o RH das empresas com mais de 100 funcionários, a maioria vai dizer que uma das maiores dificuldades da área é justamente cumprir a lei que determina cotas de 2% a 5% para trabalhadores com algum tipo de deficiência. As razões para as dificuldades são as mais variadas possíveis.

Falta de mão de obra qualificada e falta de vontade dos próprios deficientes são as principais barreiras enfrentadas na hora de contratar portadores de deficiência. Mas será que é só por isso que as empresas têm problema em cumprir a lei? A verdadeira pergunta a ser feita é: a sua companhia está preparada para receber um deficiente como funcionário?

Não falo na apenas da empresa colocar elevadores, rampas de acesso, portas largas, banheiros adaptados. Isso é o mínimo. Falo do dia-a-dia do profissional. Quando os RHs citam o problema da mão de obra qualificada, muitas vezes realizar um curso profissionalizante não é suficiente, já que o deficiente pode ter limitações que fazem com que ele não consiga se inserir naquele processo produtivo.

Em Valencia, na Espanha, existem centros de trabalho para pessoas portadoras de deficiência, coisa que não existe aqui. Vale dizer que esses centros são empresas privadas e a única diferença deles em relação às empresas comuns é que 70% da mão de obra é de profissionais com algum tipo de deficiência física e/ou mental. Não há filantropia na gestão desses centros, nem leniência por parte dos clientes.

Pois bem, em um desses centros, a gestão tentava minimizar as dificuldades dos funcionários de forma individual, caso a caso. E como as estações de trabalho eram comuns, geravam dificuldade para 61,7% dos profissionais. Além de comprometer a qualidade do trabalho, a tentativa de resolver os problemas de forma individual fazia com que o custo operacional fosse mais alto. Com a aplicação do poka-yoke, aliado ao design universal, reduziu-se a incompatibilidade dos profissionais aos processos para 25%. Onde está a mágica?


Em uma das soluções propostas, a função na estação de trabalho era embalar parafusos e outras peças em sacos plásticos. Quase a metade dos trabalhadores tinha dificuldade na contagem das peças. A resposta para o problema foi colocar uma placa divida no número necessário de peças. Quando ela era totalmente preenchida, o funcionário colocava o conteúdo no saco. Sem erros. Simples, não?

Mesmo as soluções podendo ser simples, é muito complexo falar de inserção de portadores de deficientes no mercado de trabalho quando a resistência está dentro das empresas. Há, inclusive, executivos que contratam os deficientes e os deixam em casa porque quer, apenas, ficar dentro da lei. Deficientes são pessoas capazes e bastante produtivas. Acontece que, antes de preparar fisicamente uma empresa para receber essas pessoas, é preciso preparar a cabeça de quem já está lá dentro.

Este texto foi escrito com base no artigo “The potential of pokayokes for universal design in the workplace: a case study.”

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