segunda-feira, 23 de maio de 2011

A sustentabilidade e o quarto setor (ou o setor 2.5)

Falar de quarto setor no Brasil é algo tão recente, que até mesmo quando se coloca o termo no Google, ele te leva para o que muitas pessoas chamam de setor informal, aquele que números e estatísticas oficiais não mostram; aquele que movimenta mais de 30 bilhões de reais por ano no Brasil só com pirataria e emprega mais de dois milhões de pessoas sem qualquer direito trabalhista.

No entanto, de uns tempos para cá, a expressão quarto setor vem ganhando novo significado. Um significado bem melhor, convenhamos. Assim como na década de 90 se propagou no mundo um sistema político conhecido como terceira via, no mercado de agora vem surgindo um setor com fins lucrativos, mas, digamos, meios sociais.

Para quem não sabe o significado de terceira via, ela foi o resultado da necessidade de um sistema político que contemplasse o capitalismo, mas com um viés social, onde, ao contrário do livre mercado, o governo interviesse em questões relacionadas ao combate à miséria (nada semelhante ao bolsa família, diga-se de passagem), responsabilidade fiscal, saúde, educação etc.

Também chamado de setor 2.5, o quarto setor é muito parecido com o que prega a terceira via, só que numa ótica é empresarial. Ao contrário do terceiro setor, ele tem fins lucrativos. É uma categoria de empresas que são movidas por lucro, mas cujo business está relacionado ao desenvolvimento social/ambiental. Sua maior vantagem em relação às ONGs é que, justamente, por ser uma empresa, pode crescer e atrair investimento.

E aí, entrando na linguagem de mercado, que é a minha, vejo com muito bons olhos o surgimento e o crescimento deste novo setor. Não que eu não acredite nas .org.br, mas aposto demais no quarto setor porque é um modelo que propõe transformação e melhoria social/ambiental de forma sustentável, principalmente porque não fica na dependência de doações e tem compromisso com gestão e eficiência operacional.

Nos EUA, estudos apontam que em 10 anos o quarto setor será responsável por cerca de 10% do PIB. Temos em Bangladesh o maior expoente do empreendedorismo social. E em seu discurso como ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus falou muito bem desta nova realidade: “Um empreendedor social, ao invés de ter apenas uma fonte de motivação, como a maximização de lucro, tem duas: maximizar lucro e fazer o bem para as pessoas e o mundo”.

No Brasil bons negócios sociais já despontam. A Moradigna, por exemplo, atua na área de habitação e oferece serviços para famílias de classe sócio-econômica C e D. Seu principal serviço é o de reforma expressa, com objetivo de tornar as casas salubres e, assim, melhorar a qualidade de vida das famílias que moram nelas. A Rede Artemísia, de São Paulo, funciona, dentre outras atividades, como incubadora de negócios sociais. 

Ainda não se tem no Brasil números desse mercado. Ao menos que eu saiba. Mas meu feeling diz que o potencial é grande. Fica aí a dica para bancos que dizem ser de desenvolvimento e investidores, que terão um grande desafio com esse novo modelo de negócios, pois terão de olhar não somente capacidade de gerar lucro, mas também de transformação.

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