quinta-feira, 30 de junho de 2016

A sustentabilidade do ponto de vista da cultura

Antes de começar o texto, alinhemos expectativa. Quando falo de cultura, não falo de artes, mas de identidade cultural, comportamento de determinada população em determinado local. Ok, comecemos.

Quem trabalha em empresa, seja empresa grande, seja startup, está acostumado a ouvir sobre a importância da cultura empresarial. Eu mesma já saí de empresa quando vi que meus valores eram antagônicos aos valores dela (não aqueles bonitinhos que aparecem no site, mas o valor de dia a dia de trabalho).

Quando a gente fala das multinacionais, uma das grandes dificuldades é manter a unidade cultural nos mais diversos países em que a empresa atua e entender que muitas vezes ela terá de se adaptar. Imagina que cada lugar onde a empresa atua possui um perfil diferente. E quando a cultura local é forte e motivo de orgulho para uma população? Como manter uma identidade organizacional ao mesmo tempo em que tem de valorizar as características regionais de um lugar? Vou mais além: o que isso significa em termos de impacto para as empresas?

Quem se lembra quando o Walmart entrou no Brasil e era possível encontrar nas  lojas botas de ski e tacos de golfe? Quem se lembra das matérias que saiu há alguns anos  relaando o choque cultural quando a InBev comprou a Anheuser-Busch, conhecida pela forte ligação com a cidade de Saint Louis?

Seja do ponto de vista do cliente, seja do ponto de vista do funcionário, a cultura local não é algo que se possa deixar de lado. Se a empresa der de ombros para isso, ela deixa de ter a tal “licença social” para operar. E isso custa muito caro.

Pensando no Brasil, um dos estados que mais valoriza a cultura local é, sem dúvidas, Pernambuco. E foi lá na cidade pernambucana de Goiana que visitei a Fábrica da Jeep (que produz o Jeep Renegade e o Fiat Toro) no início do mês.

Quem acompanha o blog, sabe que em abril fui visitar a unidade da Fiat em Betim e ver como funciona a sustentabilidade no processo produtivo da fábrica. Na visita a Goiana, pude verificar que a cultura organizacional que vi em Betim se mantém. E para a sustentabilidade, manter a cultura organizacional é fundamental.

A base para a sustentabilidade corporativa é processo e melhoria contínua. Por conta disso, um padrão, independente das fronteiras, é a garantia de que ela não só é um valor para a empresa, como uma ferramenta de planejamento e gestão. E a visita a Goiana só confirmou o que eu já sabia. É uma sustentabilidade super moderna, de fazer os olhos brilharem.

Mas como se processos e melhoria contínua não fossem suficientes, tem um lado da sustentabilidade da Fiat muito sutil que, acredito, passa despercebido ao grande olhar. E é o que no final acaba diferenciando uma empresa tradicional para uma empresa do futuro. Conforme falei no texto sobre Betim, me chamou atenção a visão da Fiat de ir além de uma montadora, pensando sob a perspectiva da mobilidade. Somado a isso, pude conhecer um lado que pode parecer bobo num primeiro momento, mas que na soma final faz toda a diferença. 


A fábrica da Jeep em Goiana foi construída numa região onde antes a economia era baseada em plantação de cana. Quem conhece a cadeia produtiva de cana, sabe como ela, muitas vezes, é degradante para a ponta final, ou seja, para quem faz a colheita. Não raro há trabalho infantil e trabalho análogo ao escravo.

Aí a Fiat vai lá e inicia a construção de uma fábrica gigantesca. Não só por questões legais, mas também por questões de cultura organizacional e da “licença social” para operar, ela contratou mão de obra local para a construção. Acontece que o cenário era que ela tinha à disposição era a de mão de obra qualificada para, basicamente, cortar cana.

E então a Fiat/seus fornecedores capacitou uma mão de obra calejada dos canaviais a uma nova profissão. E a fábrica foi construída. Uma vez construída, precisava-se de mão de obra para operar a fábrica. E novamente a Fiat/seus fornecedores formou dentro da região a mão de obra necessária. Ou seja, um legado para Goiana e seu entorno.

Se não bastasse a verdadeira transformação social da região que a Fiat ajudou a promover, tem a cereja do bolo que vem em forma de valorização da cultura local, que é algo intangível, mas que ajuda a manter o bom clima organizacional, que impacta no turnover da empresa, na gestão do conhecimento, na performance dos funcionários etc etc etc. E deixo para vocês algumas fotos que tirei para tentar retratar em imagem algo que simplesmente não se mede.


 

Meus filhos, se vocês não chamam isso de sustentabilidade, podem deixar que eu chamo!

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