terça-feira, 2 de junho de 2020

Quer trabalhar com sustentabilidade, mas não tem experiência?

Esse texto tem três versões aqui no blog e acho importante, de tempos em tempos, trazer novamente a pauta para as pessoas. A primeira versão, que hitou pra caramba, foi escrita em 2010. Três anos depois revisitei o texto e em 2017 dei uma modernizada nele. Acho que faz sentido a essência dele voltar em 2020, principalmente porque a pandemia e quarentena estão fazendo com que muitas pessoas revejam seus valores e o que querem para a vida a partir de um novo normal que se inicia.

Pois bem, quem me conhece ou quem me acompanha por aqui, pelas redes sociais, pelo podcast e pelos grupos de whatsAPP sabe que tenho uma visão bem peculiar de sustentabilidade. Há mais de dez anos, por exemplo, falo que ela não é uma área que começa e termina em si; ela é integradora e trabalha dando suporte aos demais processos da empresa. E foi com essa visão, inclusive, que nasceu a minha primeira empresa, a Agência de Sustentabilidade, uma consultoria focada em desenvolver projetos de sustentabilidade no nível de processos.

Vira e mexe, ainda hoje, recebo mensagem de pessoas me perguntando como fazer para trabalhar com sustentabilidade corporativa. Em quase onze anos de existência desse blog, digo que uns 60% dos e-mails que respondi são de pessoas que entram em contato comigo foi sobre isso. Muitas reclamam que para entrar na área as empresas exigem experiência, mesmo quando ela está sendo formada e mesmo quando a área, apesar do nome, não faz sustentabilidade.

Na primeira temporada do SustentaíCast, acho que o quarto ou quinto episódio, falo exatamente sobre o perfil da área de sustentabilidade, o escopo de trabalho, as competências comportamentais e profissionais que o profissional da área deve ter, as “melhores” formações... Fica a dica para quem ainda não ouviu!

Acontece que mesmo tendo a área em um monte de empresa, ela costuma ser muito hostil a quem não está na patota. Ainda mais em tempos de crise, já que é um dos setores que mais sofrem cortes (falo sobre isso neste podcast). Há, ainda, um fator, digamos, agravante, pois, geralmente, a área costuma ser muito enxuta, já que nem sempre as lideranças da empresa enxergam o valor da sustentabilidade.

Ou seja, poucas vagas que, quando aparecem, ou são ocupadas pelas mesmas pessoas de sempre, ou batem de frente com a falta de profissionais qualificados (e é uma dificuldade real que presencio aos montes, por mais que estejamos falando de uma área que caiu nas graças das empresas há mais de dez anos).

Uma vez, conversando com uma pessoa que fazia um MBA voltado para sustentabilidade, mas trabalhava em algo completamente diferente, falei como ela poderia se tornar interessante para a área. Porque a primeira coisa que aviso é que pós-graduação não vai habilitar ninguém a ser um profissional de sustentabilidade e nem vai ser garantia de emprego. Isso, inclusive, foi uma das coisas que mais me irritou quando fiz um MBA na área, já que a maioria presente estava ali porque queria um emprego e não contribuir com troca de conhecimento.

Julianna, já entendi o cenário, mas gosto de sustentabilidade, quero trabalhar com isso, quero encontrar um propósito na minha vida, mas a maldita falta de experiência tá pegando. O que isso significa? Que meu mundo acabou, que estou condenado a ficar numa área que não quero mais, insatisfeito no trabalho, amargurado com a vida e candidato a uma úlcera?

Calma, jovem, não se desespere.

A principal dica que dou é fazer um trabalho voluntário que proporcione experiência em sustentabilidade. Neste caso, quando falo de voluntariado, não digo ir para uma creche limpar bumbum de criança. Falo da possibilidade de se fazer um voluntariado sustentável e como transformar uma ação meramente filantrópica em algo mais estratégico, que seja bom para organização e bom para você.

Isso pode acontecer de duas formas: seja participando de programas de voluntariado da sua empresa (apesar de ser o tipo de programa que gera muita reputação, ainda mais em tempos de pandemia, realmente não sei como está funcionando agora), seja você mesmo procurando uma instituição do terceiro setor para propor soluções sustentáveis para ela.

Julianna, mas o que seria propor ações sustentáveis num trabalho voluntário?

Por exemplo, já pensou em reestruturar o processo de captação ou criar uma campanha de arrecadação para uma instituição do terceiro setor? Que tal ajudar uma entidade na melhoria dos processos de forma a torna-los ambientalmente corretos? Ou então ser o interlocutor da organização com empresas que impactam a região? Ou cuidar das mídias sociais, gerando conteúdo de sustentabilidade e medindo o impacto do seu trabalho no resultado final da ONG?

Outra sugestão que também dou é aplicar a sustentabilidade na própria área em que você já trabalha. Tá no financeiro? Procure mecanismos ou proponha projetos que envolvam finanças sustentáveis. É do RH? Tem um mundo de ações para se fazer no engajamento interno, em treinamento, recrutamento... Trabalha no marketing, na comunicação, em supply, em IT? Dedique algumas horas da sua vida a como transformar o seu setor em uma área sustentável.

Inclusive, a segunda temporada do Sustentaí no Youtube foi, justamente, sobre como podemos aplicar a sustentabilidade na nossa profissão sem ser da área de sustentabilidade. Teve jornalismo, marketing, economia, arquitetura, gastronomia, gerenciamento de projetos, publicidade, comunicação interna, engenharia química, design, engenharia de produção, moda... Não sei se esqueci alguma. Mas se esqueci, é só procurar na playlist.

Então galera, se vocês realmente querem trabalhar na área de sustentabilidade, mas estão com dificuldades, sugiro seguir algum desses caminhos. Façam isso, gerem resultados e depois coloquem no currículo. Quando essa loucura passar, porque ela vai passar, tenho certeza que terão uma baita história para contar de suas experiências com sustentabilidade.

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