domingo, 30 de agosto de 2009

Sustentabilidade corporativa e o longo prazo

Falar de sustentabilidade corporativa sem associá-la à idéia transformação é impossível. E é justamente essa a maior dificuldade e desafio ao se implementar o conceito em uma empresa. Transformar implica visão em longo prazo, aumentando, por si só a complexidade de um projeto sustentável. Quero que um, somente um, profissional de RH se manifeste dizendo que consegue conduzir um projeto de transformação que só contemple resultados em curto prazo.

A transformação proporcionada pela sustentabilidade corporativa é muito profunda. Ela lida com mudança de valores, novas formas de se produzir, negociar, comunicar, relacionar e, até mesmo, lidar com problemas. Os resultados não aparecem em um mês, em alguns meses ou um ano. É preciso tempo, longos anos, para que todo investimento de dinheiro, tempo e força de trabalho faça sentido. Aí que mora o problema.

No Brasil, principalmente, as empresas não têm cultura de planejar em longo prazo. Quer dizer, tem, mas o que elas consideram longo prazo é o período de três anos do planejamento estratégico, podendo chegar, em alguns casos, até cinco anos. É pouco. Projetos de sustentabilidade requerem, muitas vezes, períodos de dez, quinze anos para que os resultados justifiquem o investimento.

Minha experiência corporativa me fez perceber que muita dessa urgência por resultados rápidos tem a ver com a questão dos bônus que as empresas pagam pelo desempenho dos funcionários. Quando escrevi sobre as características dos projetos sociais / ambientais sustentáveis, dei como exemplo a construção de uma fábrica próxima à determinada comunidade. Peguemos novamente esse exemplo.

Suponhamos que um dos resultados para bônus anual da área de sustentabilidade ou RH da empresa seja a redução de 50% dos conflitos com a comunidade do entorno das fábricas. O caminho mais fácil é a criação de projetos paternalistas que geram retorno rápido. Assim o conflito é reduzido e todos ficam felizes, principalmente os profissionais que alcançaram suas metas e verão depositado em suas contas três, quatro, sabem-se lá quantas vezes mais, o valor do seu salário.

Mas aí faço a pergunta do milhão: onde foi parar a sustentabilidade? Será que um projeto melhor desenhado e com mais profundidade não é capaz de trazer melhores resultados mais para frente? E se somarmos o custo de diversos projetos superficiais feitos com base nas metas anuais de desempenho dos profissionais, não seriam mais caros que a implementação de um longo projeto de sustentabilidade? Eu tenho toda segurança do mundo para dizer que sim, eles são mais caros.

Se analisarmos mais criticamente a situação, não é apenas a área de sustentabilidade que sofre com o imediatismo. É qualquer área. Quantas marcas precisaram ser descontinuadas porque o diretor de marketing não pensou nela no longo prazo? Quantos produtos não deram prejuízo porque não tiveram a paciência para investir na maturidade de um mercado? Qual o custo da oportunidade em ser barrado num mercado porque não se adequou a fabricação às restrições impostas pelo país importador, pois o planejamento estratégico de três anos não contemplou ampliação de mercado internacional?

Situações desse tipo são corriqueiras no dia-a-dia das empresas e refletem o egoísmo e a falta de comprometimento das lideranças. Mas sejamos realistas, que diferença fará para um executivo uma transformação cujo resultado pleno é perceptível daqui a uma década ou de como a empresa estará daqui a 20 anos, se ele mesmo não sabe se estará à frente dela quando esses resultados estiverem sendo colhidos? Que venham, então, os bônus anuais!

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