domingo, 9 de agosto de 2009

Voluntariado empresarial sustentável. É possível?

É inegável que a forma como as empresas financiam programas sociais e ambientais vem mudando consideravelmente ao longo dos anos, diminuindo cada vez mais o espaço para a simples filantropia. Somado a isso temos a crise do último ano que tornou o dinheiro para esses programas mais escasso. Não que as empresas não queiram mais investir em comunidades ou mitigação de impactos, por exemplo; elas agora querem que os projetos estejam alinhados aos seus processos de negócio.

No entanto, na contramão dessa tendência, vemos um forte movimento dentro das empresas que estimula a prática do voluntariado corporativo. No ano passado, inclusive, o Rio Voluntário criou o CBVE (Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial), tendo o suporte das maiores empresas do país, como a Vale, a Petrobras, a TV Globo, a Gerdau, a Shell, entre outras.

Se pensarmos no conceito clássico do que é ser voluntário (segundo a ONU “é o jovem ou adulto que dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos”), vemos um conflito entre o voluntariado corporativo e a movimentação das empresas para transformarem suas ações sociais e ambientais em atividades estratégicas.

A grande questão que envolve esse dilema é se não traria mais resultados tanto para as empresas quanto para as instituições beneficiadas caso fossem aplicados conceitos de sustentabilidade nas ações de voluntariado. O tema é polêmico, mas se hoje o investimento social das organizações é estratégico, qual o sentido de ,ao se realizar ações de voluntariado corporativo, mobilizar recursos financeiros e humanos para algo meramente filantrópico? Como transformar essa filantropia em sustentabilidade?

Para isso ser possível, é preciso planejar as ações ainda na fase de elaboração do evento (dia do voluntariado, semana do voluntariado etc). Os responsáveis pelo comitê de voluntariado (geralmente pessoas da área de sustentabilidade, de comunicação ou de RH) devem identificar dentro das instituições beneficiadas as necessidades referentes não apenas a doações, mas também necessidades estratégicas.

Por exemplo: uma ONG está com problemas de captação, mas não tem alguém com conhecimento de marketing direto para realizar as ações. Ou então a crise fez com que a demanda por atendimento de outra ONG aumentasse substancialmente de forma que a qualidade desses atendimentos tenha caído. Como voluntários corporativos podem ajudar nesses casos?

O voluntariado sustentável pode acontecer de diversas maneiras, alguns exemplos são: o colaborador doa seu conhecimento para executar projetos ou ações em determinada área. Ou ele capacita funcionários ou outros voluntários para atuarem numa área. Dependendo do tempo e da equipe voluntária, pode-se, até, reestruturar uma área. Há, inclusive, a possibilidade de colaboradores atuarem em outros processos para ganhar experiência.

Depois de identificadas as necessidades das instituições beneficiadas, cabe ao comitê replicar as informações aos funcionários da empresa e buscar interessados em formar grupos de ação. A forma como isso acontece depende de como as empresas organizam seu voluntariado, da disponibilidade dos recursos humanos das empresas e varia de acordo com a estrutura e necessidade das instituições sociais.

É claro que ONGs, asilos, creches têm necessidades urgentes que não podem esperar. E é claro também que a filantropia não pode acabar. Essas necessidades devem ser respeitadas. Mas junto das ações imediatas, as empresas podem pensar com carinho na implementação do conceito de voluntariado sustentável, afinal, não é mais efetiva e de maior alcance uma ação que beneficie uma instituição continuamente?

4 comentários:

Sylene disse...

Hum.. bastante instigante esse tema, contudo ficaram algumas perguntas saltitando em minha "cachola", vamos lá:
1)Confesso que não vi diferença entre a definição de "Voluntariado Empresarial Sustentável" e a sustentabilidade social ou compromisso social, uma vez que ambos trabalham com ações continuadas, embora o primeiro seja mais voltado para ações imediatas..mas não deixa de ser estratégico (ver item: O QUE FAZEMOS, da CBVE) :P
2)Você comenta que existe um "conflito" entre o voluntariado corporativo e a movimentação das empresas para transformarem suas ações.. etc e tals..(Gostaria que você exemplificasse mais que conflitos são esses, pois não consegui visualizar direito :P)
3) Em seguida faz a pergunta sobre os investimentos sociais estratégicos ressaltando, a meu ver, que a ação "voluntariado empresarial sustentável" seria uma atividade de caráter filantrópico. Bom, pelo menos foi isso que entendi.

Por favor, me esclareça essas dúvidas.. não sei se entendi direito sua postagem, mas confesso que fiquei meio "cafusa"(rsrsr) nas definições e não tive como me colocar.

um grande abraço!
Sylene

Julianna Antunes disse...

Oi, Sy! Respondendo:

1) A diferença entre o voluntariado sustentável e as ações sociais, é que as ações são estruturadas por uma área e tem um porquê da empresa estar fazendo aquilo. O voluntariado sustentável é a mobilização da companhia para que ações pontuais sejam feitas em instituições sociais (como em qualquer voluntariado corporativo) com a diferença de ao invés de se praticar a filantropia, praticar a sustentabilidade.

2) O que quero dizer com o conflito entre o voluntariado e a estratégia da sustentabilidade é que a essência do voluntariado é ser filantrópico e que isso não é sustentável. Não quis dar exemplos claros pois é um tema delicado. Mas o que vale mais para uma instituição: os voluntários passarem um dia brincando com as crianças (como costuma ser o voluntariado corporativo) ou que eles reestruturem o departamento financeiro desta instituição, por exemplo?

Não seria mais efetivo se o voluntariado corporativo fosse orientado para ajudar as instituições na busca pela auto sustentabilidade?

Sei que é complicado falar disso, pois voluntariado é a doação de alguma coisa que a pessoa faz por livre e espontânea vontade, mas acho que é um assunto que pode ser debatido nas empresas e entrar na pauta das áreas de responsabilidade social, RH e comunicação das empresas.

3) Quanto à questão do ISE, por mas que seja doação, as empresas tem interesse estratégico nessa (ex. a Accenture é sponsor do CDI em projetos de qualificação de jovens porque um dos maiores problemas dela é recrutamento de pessoas qualificadas em tecnologia). Por isso a minha pergunta: se até as doações estão ganhando caráter estratégico, por que não fazer um voluntariado nos mesmos moldes?


Não sei se eu deixei claro, mas essa minha proposta de voluntariado sustentável não é praticado em nenhuma empresa. É apenas uma sugestão minha.

Descafusou agora, menina?

Sylene disse...

hihihihi...
hrum, hrummmm...

Descafusei mais..rsrsrs
obrigada pela explicação!!

Um abraço! :-)

Alexandre Carrasco disse...

A dificuldade em fazer um programa de voluntariado nestes moldes e a mesma que pode ser diferencial na implantacao dele - lideranca.
Em uma organiza;'ao existem silos organizacionais, egos e barreiras sempre colocadas por pessoas e que devem ser quebradas. Tenho a percep;'ao que nenhuma area de qualidade, responsabilidade social ou sustentabilidade pode realizar com eficacia suas acoes quando ainda nao conseguiu internamente quebrar estes silos e conseguir o real apoio de da organizacao, sobretudo da lideranca.
A proposicao de melhorias por outros nas areas muitas vezes pode demonstrar as fragilidades do gestor e exigira da organizacao um grande censo decamaradagem e tolerancia de modo a permitir que as pessoas desenvolvam esta habilidade e nao sejam punidas.
Uma mudanca neste nivel pode demorar e os resultados sao de longo prazo e exigirao dos responsaveis grande dedicacao e capacidade de convencimento.
Nao digo que comecamos errado quando atuamos inicialmente com acoes externas, pois estas podem ser exatamente as acoes que criarao uma reputacao e fornecerao exemplos para a mudanca, mas qualquer plano de sustentabilidade estara incompleto se nao contemplar acoes de endomarketing e o engajamento da forca de trbalho e a lideranca na sua consecucao.