sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A conta do aquecimento global: quem vai pagar?

Lançado essa semana em Brasília, o estudo “Economia das Mudanças do Clima no Brasil”, conduzido por equipes da USP, UFRJ, Unicamp e Embrapa, aponta que o país pode perder até R$ 3,6 trilhões em razão dos impactos provocados pelas mudanças climáticas e reduzir o nosso PIB em até 2,3%. Vale dizer que o valor equivale a jogar fora um ano inteiro de crescimento econômico nos próximos anos.

O estudo foi inspirado no Relatório de Stern, elaborado em 2006 pelo economista do Banco Mundial Nicholas Stern, que apontou o impacto das mudanças climáticas na economia nos próximos 50 anos. Além disso, o economista afirmou que com investimento de 1% do PIB mundial é possível evitar perdas de 20% do mesmo PIB nesse mesmo prazo.

Pensemos no quanto essa conta afeta o mundo corporativo. Na questão da energia, por exemplo, lembremos que a brasileira vem, basicamente, das hidrelétricas. De acordo com o governo federal, a infraestrutura atual garante o fornecimento para os próximos anos. Mas a questão é: de que adianta termos estrutura necessária para garantir energia para daqui a 500 anos, se não chover? Como as empresas vão produzir se o fantasma do apagão rondar suas portas? Ou melhor, a que custo elas produzirão e quem pagará por isso? Nós, consumidores?

No ponto de vista da agricultura, sem muita análise ou necessidade de números, podemos perceber que o país será uma dos mais afetados com o aquecimento global. Levando-se em consideração que somos um dos maiores produtores de grãos no mundo, o impacto, além de muito alto, vem em cascata, se alastrando rapidamente para vários setores da economia, saindo das lavouras (familiares ou não), passando pelas indústrias alimentícias e chegando ao consumidor em forma de desemprego e, principalmente, aumento de preços.

Falando especificamente da Amazônia, se nada for feito até 2050, o estudo indica uma redução de 40% na cobertura florestal na região sul-sudeste-leste, que será transformada em savana, afetando não apenas a agricultura lá praticada, mas também a pecuária (a pecuária sustentável, obviamente). O nordeste, que já sofre com a seca, sofrerá ainda mais com a redução da chuva entre 2 e 2,5 milímetros por dia. Assim, os abismos regionais no Brasil se acentuarão e a necessidade de políticas assistencialista nessas regiões se tornaria ainda mais visível.

Apesar dos aspectos negativos, o estudo também aponta caminhos para que não precisemos pagar essa conta, como por exemplo, garantir a utilização de uma matriz energética limpa (e buscando fontes alternativas de energia, como a eólica ou a solar), cessar urgentemente o desmatamento na Amazônia (essa pode por na minha conta), taxar a emissão de carbono e, até mesmo, um assunto polêmico, como o investimento em pesquisa agrícola de ponta, em particular a modificação genética.

Agora é a hora. Estamos a poucos dias da COP-15 e parece que os principais países poluentes acordaram para o problema. Mas para o cumprimento das metas já anunciadas, o governo e as empresas, sozinhos, não são capazes de dar conta. É preciso não apenas educação, mas dever cívico de toda a população para que o bem estar das futuras gerações esteja garantido.

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