segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Aquecimento global, migração e desenvolvimento local

Muita gente imagina que a única consequência do aquecimento global será nada mais que um “simples” aumento na temperatura. Em dias de COP-15, muitos especialistas falam do que vai além desse simples aumento de temperatura. Falam do custo financeiro que isso acarretará, do quanto os países terão de reduzir suas emissões, do compromisso que cada um terá de assumir daqui em diante etc.

Entrando no conceito de desenvolvimento sustentável de forma mais ampla, seu mecanismo funciona exatamente como a teoria do caos definiu o chamado “efeito borboleta”: uma ação realizada em tal lugar, de tal forma, impacta outro lugar, gerando uma consequência a partir disso. No caso do aquecimento global, ele gera uma série de resultados que vão muito além do derretimento de geleiras e invernos mais quentes.

Segundo relatório divulgado na COP-15 pela Organização Internacional para a Migração (OIM), as mudanças climáticas poderão causar até um bilhão de migrações nos próximos 40 anos. Desse número, apenas um pequeno percentual dos “refugiados” terão condições de deixar seus países e irem para lugares mais ricos. Assim, acabarão migrando para centros superpopulosos, aumentando ainda mais o problema estrutural das grandes cidades dos países pobres.

O estudo indica que as regiões mais afetadas por esse movimento migratório serão Afeganistão, Bangladesh, a maior parte da América Central e partes da África Ocidental e do Sudeste Asiático. Ainda que o estudo não aponte problemas semelhantes no Brasil, não é difícil para nós pensarmos nas consequências que uma migração desordenada pode acarretar.

O nosso principal exemplo é o descaso com que a região nordeste foi tratada por décadas. Seca, falta de investimento em infraestrutura, desemprego e coronelialismo são alguns dos problemas que empurraram a população nordestina para as grandes capitais brasileiras em busca de trabalho e dignidade. E como a maior parte não alcançou seus objetivos, acabou ocupando periferias e favelas. Favelas estas, criadas, na maioria das vezes, às custas de desmatamento e degradação ambiental. Sem contar o caos social ocasionado por falta de emprego, baixa escolaridade, precariedade no sistema de saúde etc.

Hoje as regiões norte e nordeste, principalmente, já atraem muito mais olhares da iniciativa privada do que há dez, quinze anos. Fábricas, portos, usinas, refinarias e uma série de outros investimentos estão presentes nessas regiões, diminuindo a necessidade da população local tentar a sorte no sudeste. No entanto, ainda assim, há um problema crônico, não apenas nessas regiões, mas no Brasil inteiro, que diz respeito ao desenvolvimento do interior do país.

Uma iniciativa bem interessante sobre isso é capitaneada pelo Instituto Souza Cruz, que desde 2000 tem como missão contribuir para educar e formar jovens empreendedores no meio rural brasileiro. O Instituto acredita que contribuindo para o desenvolvimento dos jovens das regiões rurais, eles não precisarão sair de suas cidades em busca de qualificação e emprego nos centros urbanos. E voltando a falar no efeito borboleta, ao se fixarem em suas próprias cidades, esses jovens não vão impactar o já degradado meio ambiente dos grandes centros, não vivenciarão tensões sociais e, ao contrário, serão protagonistas de um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável local.

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