segunda-feira, 14 de março de 2011

Entendendo a governança corporativa

É muito comum as empresas associarem a sustentabilidade à governança corporativa. Nos últimos anos ela ganhou projeção e entrou de vez no dicionário empresarial na medida em que escândalos contábeis viraram quase uma rotina. Mas afinal, qual o seu significado e por que a proximidade com a sustentabilidade?

Uma boa definição de governança corporativa é dada pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa): “sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle.” Traduzindo de forma simplista: é o conjunto de leis que regulamentam a forma de uma empresa ser administrada, fundamentando os princípios da transparência. Seria como o responsável por regras e procedimentos para a gestão das sociedades de capital aberto.

Entendamos a importância da governança: lembram-se do escândalo da Enron e da WorldCom, em 2001 ou 2002, se não me engano? O que aconteceu ali? Empresas de capital aberto são obrigadas a tornarem público seus relatórios financeiros. Executivos das empresas, com o objetivo de mostrar uma saúde financeira que não tinham, durante algum tempo divulgaram lucros fictícios para mostrarem perenidade nos negócios e assim manterem suas ações valorizadas. 

As fraudes foram descobertas, o mercado ficou abalado, uma crise de confiança se instalou e vários culpados foram identificados, dentre contadores, escritórios de advocacia, instituições financeiras, empresas de auditoria e, é claro, os próprios executivos. Por conta do impacto negativo, em 2002 o governo americano aprovou a lei Sarbanes-Oaxley, exigindo ainda mais transparência na divulgação dos relatórios financeiros e punindo severamente os que cometessem infrações.

Mas voltando para relação da sustentabilidade e da governança corporativa. E quando uma empresa tem capital fechado? Como tratar da transparência em empresas que não são obrigadas a divulgarem seus balanços contábeis? Basta lembrarmos-nos do show de horror que são os relatórios de sustentabilidade, cuja publicação é voluntária e não auditada.

Não teria uma resposta pronta para dizer como uma empresa deve ser transparente quando ela não tem obrigação de ser. Isso vai muito mais dos valores corporativos do que um procedimento padrão. Mas de qualquer forma, independente da natureza societária, transparência é princípio básico de qualquer empresa que queira de dizer sustentável. Princípio básico, não a sustentabilidade inteira.

Vale lembrar que adotar os princípios da governança não quer dizer muita coisa para a sociedade como um todo, pois ela só trata de informações financeiras. Transparência vai muito além de colocar no site um relatório que pessoas leigas sequer entendem. Portanto, não se iludam quando aparecer grandes empresas falando que sua política de sustentabilidade é fazer uso de boas práticas de governança corporativa. Balela e greenwashing. Punam essas empresas. Governança corporativa é nada mais do que obrigação. E só.

4 comentários:

Unknown disse...

Prezada Juliana,
De uma perspectiva mais sociológica, a governança é a capacidade das sociedades humanas para se dotarem de sistemas de representação, de instituições e processos, de corpos sociais, para elas mesmas se gerirem, em um movimento voluntário. Esta capacidade de consciência (o movimento voluntário), de organização (as instituições, os corpos sociais), de conceitualização (os sistemas de representação), de adaptação a novas situações é uma característica das sociedades humanas. É um dos traços que as distinguem das outras sociedades de seres vivos, animais e vegetais.
Abraço e parabéns!
Valter Faria

Josi Oliveira disse...

Prezada Julianna..
Mesmo sendo leiga em tal assunto, estou fazendo um trabalho relacionado com a parte voltada para a sustentabilidade nas empresas. Lendo sua publicação percebi que a idéia de sustentabilidade que vc direcionou seria para o lado da tranparência de ações dentro da empresa? Onde se encaixaria a questão das ações sociais que as empresas apresentam? Os programas de Gestão de Qualidade que são implantados? Estes passos não poderiam estar dentro da questão sustentável das empresas?

Julianna Antunes disse...

Josi, escrevi exatamente isso: "transparência é princípio básico de qualquer empresa que queira de dizer sustentável. Princípio básico, não a sustentabilidade inteira"

Sustentabilidade é infinitamente mais que transparência e infinitamente mais que questões sociais. Convido você a dar uma passeada pelo blog e ler outros textos, principalmente os que têm as tags gestão e processos para que você possa entender melhor o que é sustentabilidade corporativa.

Unknown disse...

Apenas para complementar minha nota anterior (que foi muito técnica e filosófica) e indo mais direto ao ponto comentado pela Juliana, a questão da Sustentabilidade nas empresas ainda é uma questão mais estética (de projeção de imagem) do que de valores e princípios transformado em atitudes (sustentabilidade na prática).
O coerente seriam as empresas terem atitudes sustentáveis, com resultados sustentáveis, com relações de qualidade com seus stakeholders para, a partir de então, prestar conta e comunicar os resultados dessas iniciativas.
Entratanto, essa não é a regra e não nos faltam maus exemplos de empresas que projetam uma imagem altamente positiva em seus relatórios anuais (bonitos e bem impressos), mas que na verdade filtram aspectos menos favoráveis ou negativos (fraquezas) ou exploram questôes extremamente relevantes de maneira conceitual, sem sustentar conceitos em iniciativas ou realizações concretas. É mais comum ver empresas com altos passivos sociais e ambientais terem esse tipo de atitude.
Acredito firmemente que a sustentabilidade (no contexto das empresas) deveriam ser contemplada em seus planejamentos estratégicos e que criam valor no longo prazo. O problema é que iniciativas sustentáveis geram valor no longo prazo, mas geram despesas no curto prazo, o que por vezes reduz o bonus das lideranças. Portanto, estamos diante do dilemas que a humanidade precisará discutir e evoluir muito durante este século, tanto no ambito da consciência individual quanto na consciência coletiva/empresarial:competição x colaboração, independência x interdependência, lucro de curto prazo x valor de longo prazo, concentração de renda x distribuição com mérito, Poder&Autoridade x Poder&Responsabilidade, exploração até a exaustão x exploração que respeita a capacidade de reposição do planeta, interesses privados x interesses coletivos... e assim por diante. Abçs, Valter