segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Analisando friamente a proposta do PIB verde

Lembram-se quando escrevi sobre como o Butão mede a sua riqueza, que é através do índice de felicidade de sua população? Neste mesmo texto critiquei a forma fria de como é avaliada a economia de um país, a percepção de riqueza das pessoas e do quanto esta riqueza material está tornando o Brasil um país pobre.

Pois bem, apesar de pouco estardalhaço, saiu na mídia no início do mês que o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) apresentou um projeto de lei que propõe mudança na forma de medir o nosso PIB. Segundo o projeto, além dos cálculos já utilizados, seria levado em conta o patrimônio ecológico nacional. Seria, assim, digamos, um PIB verde. De acordo com o deputado, o PIB verde é um indicador que leva em conta as consequências ambientais do crescimento econômico medido pelo PIB padrão. Ou seja, os custos ambientais que esse crescimento gera.

Confesso que mesmo sem me aprofundar nos detalhes do projeto, fiquei preocupada com a forma como está sendo encarada a questão ambiental. Pelo que entendi, o cálculo será o valor monetário das riquezas menos o valor monetário do impacto que essa riqueza causou no meio ambiente. Pergunto: quando há investimento em inovação, esse “custo” é subtraído do PIB?

Em minha opinião, a lógica do cálculo não deveria ser apenas do custo que se teve por não investir em meio ambiente. É muito simplista e muito reativo pensar que o valor da riqueza financeira gerada menos o custo do impacto ambiental reflete o que é sustentabilidade verdadeiramente. E na boa, o que isso traduz na prática? Que corremos o risco de deixarmos de ser a sexta maior economia do mundo?

Por que, além desse custo, não utilizarmos a lógica contrária, a de somar à conta o impacto financeiro que o investimento em economia verde gera para o país? Será que uma matriz energética limpa tem o mesmo valor que uma matriz termoelétrica? Será que uma empresa que fatura um milhão de reais por ano vendendo embalagens oriundas do petróleo gera a mesma riqueza que uma empresa que fatura o mesmo milhão vendendo embalagens feitas  de material reciclado? É só o custo ambiental que está embutido nessa riqueza?

E as questões sociais, tanto do ponto de vista do custo, quanto do investimento, que sequer foram mencionadas? Lá no texto sobre o Butão, falei do carro. Pensemos: qual o custo social de se ficar preso no trânsito cada vez mais tempo? Quais consequências isso acarreta? Desmembrando essa questão, vejo, no final dessa ponta, a possibilidade de maior favelização das cidades. Na hora de calcular o PIB, esse custo seria diminuído? E na boa, qual a importância de ter esse valor diminuído, se nada for feito para diminuir ou resolver o problema?

Enfim, são muitas questões pendentes que poderiam ser contempladas desde o início do projeto de lei. Mas não se deixem levar pelas minhas palavras. Critico o projeto que está muito distante do ideal, porém prefiro isso a nada.

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