quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Uma reflexão sobre sustentabilidade corporativa baseada nos últimos acontecimentos

Ontem saiu uma matéria no caderno Razão Social, do jornal O Globo muito, muito, muito interessante. Infelizmente não me lembrei de guardar para escanear e não consigo encontrá-la disponível online. Brilhantemente escrita pela jornalista Camila Nóbrega, a matéria falava do prêmio “conquistado” pela Vale, de pior empresa do mundo.

Longe de questionar a importância do prêmio e mesmo a sua legitimidade (que foi feita por votação online e como primeira colocada a Vale angariou, apenas, 25 mil votos), o que mais chamou atenção, e foi apontado na matéria, foi a resposta dada a empresa diante do fato: a de que ela fazia parte do ISE Bovespa e que fazia parte do CDP.

Há pouco mais de um ano escrevi questionando justamente sobre os critérios avaliados pelas bolsas para incluírem, ou não, as empresas em seus índices de sustentabilidade. Só para deixar vocês atualizados, do último ranking divulgado das dez empresas mais processas no Brasil, sete empresas listadas no ISE faziam parte desse, nada agradável, top 10. Fora o próprio processo de escolha das empresas, que não é auditado externamente, dentre outros absurdos.

E o que é CDP? É nada mais que uma organização que armazena as informações das empresas a respeito de emissões de carbono e leva essas informações a investidores. Não é uma certificação, não é uma regulamentação e não tem função de punir ninguém. O fato de uma empresa abrir ao CDP o seu inventário de emissões, não significa que ela seja sustentável. Não significa, sequer, que ela esteja engajada na redução dessas emissões. Significa, apenas, que ela divulgou a quantidade de carbonos emitidos em seus processos produtivos, independente de ser muito ou pouco.

Num mundo cada vez mais multistakeholder¸ onde as pessoas têm cada vez mais voz, seja através de grupos organizados ou apenas alguém gritando em uma rede social, ter não somente a segunda maior empresa do Brasil, mas muitas outras adotando uma posição de passividade diante dos problemas e usando índices como chancela para se dizer sustentável é, no mínimo, desprezar o acontecido.

Não, o mundo não vive sem mineração e nem a Vale vai perder valor de mercado por conta deste título. Aliás, esse título está mais fundamentado na percepção das pessoas do que o que acontece de fato. Mas pergunto (independente do valor do prêmio, do quanto ele arranha a imagem da empresa e se a forma de avaliação é a correta): foi injusto?

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