segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O que a eleição de Trump pode ensinar à sustentabilidade corporativa

Não, o título deste post não é uma ironia, muito menos uma piada. Na verdade o título ideal seria o que a política atual pode ensinar à sustentabilidade corporativa. Antes de explicar o título, é bom deixar claro: tenho horror ao Donald Trump e o que ele representa. Seja pelas questões climáticas e ambientais, pela misoginia, pelo protecionismo, pelo preconceito, pelo racismo, pela forma como faz negócios. Só que isso não significa que ele não possa me ensinar algo.

Mas vamos lá: o que Donald Trump tem a ver com sustentabilidade? Na verdade muito pouco. Acho que nada. Apesar disso, sua vitória nas eleições americanas é uma boa oportunidade para quem trabalha com sustentabilidade corporativa, principalmente responsabilidade social, fazer uma análise mais profunda sobre como funciona a área e os resultados que acabam sendo gerados.

Trabalhei muito pouco tempo com RS, mas mais do que experiência, observei muito como ela funciona e tenho talento (modéstia à parte) de aprender com a observação. Para quem não está acostumado com a área, em muitos casos, principalmente na indústria, na maioria das vezes, ela existe como forma de colocar em prática obrigações legais de licenciamento.

Uma empresa de petróleo e gás ou mineração, por exemplo, é obrigada a investir x% do valor do projeto em ações na comunidade. Aí ela injeta muito dinheiro (muito mesmo) em iniciativas de eficácia extremamente duvidosas, mas que atende a lei. Não lembro o valor dessa porcentagem, mas falemos de 0,5%. Coloca aí uns 5 bilhões (estou sendo bem conservadora) para colocar uma mina em operação. Isso significa 25 milhões para ações nas comunidades impactadas apenas enquanto a mineradora está implantando aquela operação.

Numa área de exploração é muito difícil ter uma única empresa operando. Pensem em várias empresas atuando nas mesmas comunidades de sempre. Isso é um problema. Mas é a lei. Somado a isso, não raro, a área de RS ou RC trabalha com metodologias pré-fabricadas que foram desenvolvidas por pessoas que as criaram com a bunda sentada em uma cadeira em um escritório. Pessoas estas que possuem alta capacidade teórica sobre o funcionamento do mundo perfeito e baixa capacidade de entendimento da prática do mundo real.

Por mais que essas metodologias contemplem atividades para “ouvir” o público interessado e isso realmente seja feito, a grande verdade é que há um grande descompasso entre as expectativas das empresas e as das comunidades. É muito fácil uma empresa cair na armadilha do diagnóstico que ela faz de uma comunidade e achar que os gaps ali encontrados são as necessidades daquelas pessoas. Ou simplesmente ignorar diagnóstico, ignorar a dinâmica de funcionamento das pessoas daquele entorno e chegar com uma fórmula pronta porque deu certo em alguma outra operação sua.

Pois bem, o que Donald Trump tem a ver com essa história toda? Mesmo com toda ojeriza que o mundo demonstrou ter por ele, ele soube, como ninguém, ouvir as dores do americano médio. O americano que perdeu seu emprego de baixo valor agregado para o imigrante ilegal, que viu a fábrica da sua cidade ser transferida para a China, o americano cujo interesse é gasolina barata e carro beberrão na garagem. O americano que, infelizmente, não está nenhum pouco interessado em Acordo do Clima e que é a maioria da população.


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