quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O calcanhar de Aquiles da sustentabilidade corporativa

Não raro já escrevi aqui sobre o ponto mais crítico da implantação e da operação da sustentabilidade nas empresas: cadeia de fornecedores. Compras. Procurement. O motivo é bem simples: baixo controle da empresa. Por mais que se crie normas, por mais que se exija comprovação de documentos, por mais que eventualmente se faça auditorias, a verdade é que a gente nunca vai saber mesmo se o fornecedor que contratamos é, efetivamente, sustentável.

Imagine uma empresa como a Petrobras em tempos áureos. Ela tem o que? 40, 50 mil fornecedores? Vocês acham que uma empresa tem capacidade de gerenciar a contento a sustentabilidade dessa quantidade de empresas? E desses fornecedores, quantos são estratégicos? Quinhentos? Mil? E se algum deles for fundamental e simplesmente não atender a critérios de sustentabilidade. Faz o que? Cancela contrato e paralisa uma produção, por exemplo, ou se expõe ao risco e reza para tudo dar certo?

Eu e, acredito que, ninguém temos a fórmula para resolver os dilemas de sustentabilidade da cadeia de fornecedores. No entanto, acredito também que há formas para tentar reduzir a criticidade do processo, seja auditando os fornecedores chave (caríssimo), seja exigindo certificações de ISO 14001, SA 8000 e afins, seja exigindo relatório de sustentabilidade auditado e tentando imaginar que isso é suficiente, seja fazendo trabalho de capacitação etc etc etc.

Em 2013, se não me engano, o CEBDS lançou o manual de compras sustentáveis, um guia para ajudar as empresas nesse árduo processo. Em paralelo, disponibilizou uma planilha de Excel para que as empresas pudessem monitorar e controlar os seus fornecedores em indicadores de sustentabilidade que lhes fossem pertinentes. Achei a planilha super válida e muito boa. Mas na vida real das empresas não funciona. Imagina um Excel para monitorar 200, mil, 5 mil fornecedores. Não rola. Em questão de horas ele está desatualizado. E o trabalho é desumano.

E aí que há pouco tempo descobri que finalmente estão lançando uma ISO voltada para compras sustentáveis. Prevista para ser publicada em 2017, a ISO 20400 vai fornecer orientações para organizações implementarem as compras sustentáveis de maneira eficaz, pragmática, consistente e eficiente. Ela é aplicável a empresas de qualquer porte, públicas ou privadas, de qualquer setor e aborda as dimensões política e estratégica.

A ISO 20400 não é uma norma certificável e não aponta requisitos, mas recomendações. Ainda que não forneça uma certificação, ela é de grande importância já que foi feita para funcionar a partir de um padrão internacional. O Comitê de criação da norma é liderado pelo Brasil e pela França e o pontapé foi dado em setembro de 2013. Agora em dezembro será entregue o rascunho final do padrão internacional.

No próximo dia 05 de dezembro, o Rio de Janeiro (\o/) sediará o II Fórum Global de Compras Sustentáveis (Global Forum on Sustainable Procurement). O evento contará com a participação de diversos especialistas, nacionais e internacionais, e tem como principal objetivo discutir a relevância e dos desafios das compras sustentáveis e o papel da ISO 20400.

Para quem tem interesse no tema ou trabalha diretamente ou indiretamente com ele, o Fórum Global de Compras Sustentáveis é uma baita oportunidade para troca de conhecimentos e networking, ainda mais porque eventos de sustentabilidade no Rio de Janeiro são raros. E mesmo que esteja capengando, se a gente pensar que a cadeia de petróleo, que é altamente crítica no que diz respeito à sustentabilidade na cadeia de fornecedores, está basicamente aqui, o evento se torna bem estratégico.

Informações:

Fórum Global de Compras Sustentáveis
Data: 05/12/2016 das 08h30min às 18h
Local: Windsor Atlantica Hotel – Av. Atlântica, 1020 – Copacabana

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