segunda-feira, 5 de julho de 2010

Programa Garantia de Origem – O estudo de caso do Carrefour

A última década tem sido emblemática para o Carrefour brasileiro no que diz respeito à sustentabilidade. Ela foi inserida efetivamente ao planejamento estratégico da empresa em 2004, quando foi criado o Plano de Transformação, que tinha como objetivo principal a retomada da liderança no setor, perdida em 2000 para o Grupo Pão de Açúcar. Desde então, diversos programas foram criados, internos e externos.

No entanto, um programa implementado antes da mudança no planejamento estratégico, é o que me chama mais atenção. Criado em 1993 na matriz do Carrefour, na França, o Garantia de Origem opera mais ou menos com as mesmas premissas do comércio justo. Funcionando como um processo de certificação, o programa rastreia produtos do campo até as prateleiras do supermercado e fornece um selo de identificação que atesta a qualidade extra.

Funcionando no país desde 1999, o programa, que começou com três produtos, hoje conta com mais de 80 itens perecíveis com o selo de qualidade. Para fazer parte dos fornecedores credenciados, o supermercado exige o cumprimento de normas relativas à preservação ambiental, condições de trabalho, práticas de produção e responsabilidade social.

Para conquistar o selo, o fornecedor é auditado anualmente, recebendo a visita de veterinários, zootecnistas e agrônomos que monitoram suas atividades. Critérios básicos como não utilização de mão de obra infantil e cumprimento da legislação trabalhista estão no mesmo rol de exigências como disponibilização de áreas para estoque de embalagens vazias, tratamento de água utilizada e ausência de corantes e conservantes nos produtos.

Tanto para o Carrefour quanto para os produtores, o Garantia de Origem tem se demonstrado uma decisão acertada. De acordo com o Centro de Conhecimento em Agronegócios da FEA-USP, em 2007, a venda dos produtos GO foram 11% superiores à de 2006. Sendo que em 2007 a margem de contribuição total desses produtos foi de 27%, tendo em vista a participação de cada categoria no faturamento total do supermercado. Para os fornecedores, além da garantia de compra, o selo abre portas para outros canais de venda, inclusive a exportação para outras unidades Carrefour.

O escândalo causado no ano passado por conta do documento divulgado pelo Greenpeace, que denunciava as fazendas brasileiras que desmatavam na Amazônia para a criação de pasto, fez com que o Carrefour se aliasse aos seus dois maiores concorrentes (Grupo Pão de Açúcar e Wal-Mart) para um compromisso com a sustentabilidade. Essa aliança é importante principalmente porque traz para um setor onde os resultados são medidos em curtíssimo prazo o conceito de longo prazo.

Apoiadas pela Associação Brasileira de Supermercados, as três grandes do setor (que respondem por mais de 40% do mercado varejista) suspenderam a compra de produtos bovinos oriundos de fazendas suspeitas de provocarem desmatamento. E como eu sempre venho batendo na tecla, atitudes desse tipo mostram porque a sustentabilidade é muito mais vantagem competitiva do que simples reputação ou ganho de imagem institucional.

3 comentários:

Julianna Antunes disse...

Me resguardando de espertinhos da internet: Programa Garantia de Origem - O estudo de caso do Carrefour foi escrito e postado no dia 05/07.

Lucas M. disse...

Triste que geralmente produtos com esse selo(não todos, mas a maioria), chegam as vezes a ter o dobro ou até mais(uma vez vi uma cabeça de brócolis a 5R$, quando em outros mercados são cerca de 2R$ e em feiras 1R$) de preço, com certeza existe um lado bom nisso, mas acima de tudo existe um lado marqueteiro.

Julianna Antunes disse...

Pois é, esse ainda é o grande problema. Para ser sustentável não necessariamente tem de ser mais caro, mas muitas empresas ainda vêem isso como nicho de mercado, quando não é. Assim, elas acabam elitizando uma demanda real da sociedade e ao invés de ganhar em escala, preferem ganhar muito em pequenas quantidades.