segunda-feira, 20 de junho de 2011

Discutindo sustentabilidade na publicidade

Na última semana o que mais as pessoas me perguntaram foi o que eu achava sobre as normas que o CONAR criou para a informação sobre sustentabilidade na publicidade. No ano passado já havia escrito sobre a pesquisa da Market Analysis que apontava que 90% das empresas não entregavam o que prometiam nas embalagens quando o assunto era sustentabilidade.

Não sei o que motivou o CONAR a criar essa série de normas, mas acho que ela é fundamental. Só que acho que ela pode ir muito além do que vai. Um dos pontos presentes na série é que, de acordo com o próprio órgão, a publicidade veiculada no Brasil deverá comprovar suas vantagens ambientais. Primeira questão: sustentabilidade não é meio ambiente.

Prosseguindo, o objetivo do CONAR é coibir a banalização do apelo sustentável no marketing e reduzir o greenwashing. Segunda questão (que eu estou careca de falar): processo x produto sustentável. Uma empresa não é sustentável porque lançou um produto sustentável. O CONAR está pronto para lidar com essa questão?

Porque falar que uma empresa é sustentável, ou melhor, fazer publicidade em cima de um termo como sustentabilidade, que é tão genérico e complexo, e punir quem comunica e não pratica é bem perigoso. Afinal, o que o CONAR entende por sustentabilidade? É produto, é processo, é produto e processo, é responsabilidade social/ambiental, ou filantropia está valendo?

Tenho também outras dúvidas: como vai se dar a fiscalização disso? Porque, pelo que sei, o CONAR avalia as propagandas através de denúncias ou queixas da sociedade, da concorrência ou de alguma entidade que se sentiu ofendida/incomodada com o que está sendo divulgado. Mas se uma empresa coloca na embalagem ou anuncia na TV que aquele produto é carbon free, como terei certeza de que ela realmente plantou as mudinhas?

E só para finalizar minhas primeiras impressões, qual seria o escopo exato da série de normas? É verificar veracidade, exatidão, pertinência e relevância apenas do conteúdo da sustentabilidade exposto pela empresa na embalagem/propaganda ou também punir aqueles artifícios sórdidos do marketing, que atrela a ação sustentável à compra do produto?

Pergunto isso, pois recentemente tomei conhecimento da campanha da Danone onde, na compra de um produto da marca, ganha-se sementes e ainda ajuda a reflorestar a Mata Atlântica. Sendo que, neste caso, não estamos falando de marketing de causa, de processos, de produto e nem sei se é filantropia. Porque na minha visão, é apenas uma ação de marketing que usa a sustentabilidade como escudo para aumentar vendas e, pior, tem como objetivo atingir as crianças.

Enfim, louvável a iniciativa do CONAR, mas há ainda um longo caminho a ser seguido e muitas questões a serem esclarecidas. Mas fico extremamente feliz em saber que o primeiro passo foi dado.

5 comentários:

Felipe Bühler disse...

A maior dificuldade será em pegar os infratores, é boa a norma do Conar porque é de incumbencia de quem faz a propaganda provar seus atributos "verdes". O problema vai ser se a sociedade realmente estiver disposta a denunciar ao conar essas empresas. Espero que as redes sociais sejam de grande valia nessa causa.

Excelente o seu post Juliana.

Felipe A. Buhler
http://conscienciaempresarial.blogspot.com

Jose Furtado disse...

No mínimo curioso este seu post se considerarmos a cocacola como patrocinadora do blog.

Julianna Antunes disse...

Primeira coisa: esse blog não é patrocinado pela Coca-Cola. Segundo, se fosse, o que a Coca-Cola tem a ver com post? Não me consta que venha escrito na lata do refrigerante que o produto seja sustentável.

Jose Furtado disse...

Quanto mau humor!
Se a coca não te paga para estampar um anúncio na lateral do Blog eu te recomendo que tire a imagem de lá pois eles podem te processar por uso indevido.
A questão de que trata o Conar é não somente o que vem estampado em embalagens mas, principalmente, o que é dito nas mensagens publicitárias.
Be happy!

Marcelo Salvador Storti disse...

Muito bem observado Juliana. Sou publicitário e tenho o mesmo ponto de vista: as iniciativas são louváveis, mas ainda há muita confusão com o termo ou tentativas de "encaixar-se" na "modinha sustentável". Vamos manter os olhos abertos.