terça-feira, 10 de julho de 2012

A banalização da sustentabilidade II


Há pouco menos de dois anos escrevi um post falando do quanto estão banalizando a palavra sustentabilidade. Na ocasião, mostrei um site que chamava de sustentabilidade uma ação social de doação para uma instituição. Nem responsabilidade social era. Acontece que por esses dias me deparei com outra situação ainda pior e o tema voltou à minha cabeça.

Ok, sustentabilidade está na moda. Ok, sustentabilidade dá lucro. Ok, temos um (grande) gap em formação de massa crítica para sustentabilidade. Mas há uma grande diferença entre oportunidade e oportunismo. E por isso é fundamental que as pessoas tenham bom senso e análise crítica ao se depararem com empresas anunciando produtos e serviços relacionados à sustentabilidade.

Apesar de ainda ser nicho de mercado, os produtos sustentáveis estão ganhando cada vez mais mercado. Muitas empresas, percebendo a tendência, correm para lançar produtos com a chancela eco, amigo do meio ambiente e coisas parecidas. Já escrevi especificamente sobre isso em outra oportunidade.

Falando sobre o gap de formação de sustentabilidade, vejo muitos, muitos cursos oferecidos por aí como mero engodo. E pessoas muito bem intencionadas são enganadas com ofertas de capacitação que não passam de caça-níqueis. Inclusive cursos chancelados por universidades/faculdades bastante renomadas.

Soube por esses dias de um curso de indicadores de sustentabilidade. Ok, que legal, pensei. É um assunto super importante, de certa forma inovador e deixado para trás na hora de se pensar na formação para a sustentabilidade. Acontece que quando pesquisei mais a fundo, comecei a ver incoerências. O curso em questão é uma pós-graduação com carga horária de 366 horas.

Façamos uma análise criteriosa sobre o curso oferecido: indicadores de sustentabilidade. Mas será que o tema se sustenta em um curso de 366 horas? Do ponto de vista corporativo, indicadores são um pequeno pedaço do planejamento estratégico. Se provavelmente nem um planejamento estratégico sustentável se sustenta em 366 horas de curso, o que posso dizer de indicadores de sustentabilidade?

No site onde há a oferta do curso, não achei a ementa, mas ainda que aumentemos o escopo para indicadores voltados para desenvolvimento sustentável, não há justificativa para um curso longo como esse. Para vocês terem uma ideia do que eu falo, na literatura brasileira só há um livro voltado para o assunto. E mesmo assim é uma tese de doutorado que virou livro.

O que será ensinado sobre indicadores de sustentabilidade que precisa ser passado em 366 horas?

Lembrando que, corporativamente falando, não existe metodologia fechada de indicadores de sustentabilidade. O que há é uma adaptação dos indicadores de sustentabilidade que acessamos via GRI ou Ethos com o que o mercado utiliza para criar indicadores de performance para negócio. É simples e não tem mistério. Em um curso de 24 horas se destrincha até a alma do assunto.

Por isso, digo: não se deixem enganar. Análise crítica é fundamental para qualquer profissional, de qualquer área. E sendo a sustentabilidade uma relação de causa x efeito, essa necessidade fica ainda mais evidente.

E para finalizar, deixo claro que não conheço o curso, não sei quem é o coordenador, não sei quem são os docentes e nem a ementa (que não está disponibilizada no site). Mas o que sei é que tem um monte de gente fazendo um monte de coisas e colocando a sustentabilidade como sobrenome apenas para agregar valor.

E não se esqueçam, agenda de cursos de sustentabilidade (sem engodo e com direito a indicadores) da Agência de Sustentabilidade:

Curso Panorama da Sustentabilidade Corporativa no Rio de Janeiro dias 20 e 21 de julho – mais informações: http://migre.me/9G5YS

Curso de Planejamento Estratégico Sustentável em São Paulo nos dias 27 e 28 de julho – mais informações: http://migre.me/9Jyfw

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