quarta-feira, 18 de março de 2020

O papel da inovação e da sustentabilidade nas empresas

Quando se fala em inovação, a gente pode analisar por diversos ângulos. O da melhoria de processos, de novos produtos, novos modelos de negócios, ou mesmo uma grande disrupção, que abraça tudo junto ao mesmo tempo, com uma pitada de caos e certa destruição de mercado.

O que tenho visto ao longo dos anos é que a inovação é uma das maiores aliadas da sustentabilidade corporativa e vice-versa. Pelo menos deveria ser. Digo isso porque na minha visão, e acredito que de várias pessoas, não faz sentido algum uma empresa pensar na inovação isolada da sustentabilidade.

Peguemos a melhoria de processos, por exemplo. Neste caso falo de buscar formas de redução de consumo de materiais, recursos naturais, redução de desperdício, de falhas, de custos, novos processos que geram menos resíduos... Por essa perspectiva digo que a engenharia de produção é a engenharia da sustentabilidade (ok, do século XX, mas isso é outro papo), já que uma das premissas de atuação dela é, justamente, a busca pela eficiência das operações.

Lean manufacturing, six sigma, qualidade total... tudo isso tem como pano de fundo a sustentabilidade, ainda que ela não seja o objetivo principal.  Aliás, a quem interessar possa, na temporada do Sustentaí sobre sustentabilidade nas profissões, tem um vídeo que falo exatamente sobre isso: https://www.youtube.com/watch?v=QWsm83prmZ4

É claro que se a gente olhar na lupa, melhoria de processos não é inovação. Acontece que está dentro do escopo, principalmente no Brasil, onde até a compra de maquinário mais sofisticado já coloca a empresa no rol das inovadoras. É meio doido isso, mas façam como eu, simplesmente aceitem e sigam a vida.

Indo para a inovação de produtos, me digam qual o sentido de ir para o mercado algo novo que não seja minimamente sustentável? Não sou inocente de achar que isso é preocupação da maioria, mas ainda assim não tem lógica nos dias de hoje isso não ser default na indústria. Não estou falando de lançar um produto sustentável, mas um produto qualquer que cumpra os requisitos de sustentabilidade, desde o design até a ponta final.

Inclusive, recomendo pesquisarem o caso da Nike sobre desenvolvimento de produtos e o sistema Making. Não sei como ele está hoje, até dei uma procurada, mas o site que apontavam está fora do ar, então é provável que o projeto não exista mais. Mas de qualquer forma, o registro histórico vale a pena.

Em 2013 fiz uma palestra e falei sobre esse case. Na verdade, falei sobre a escalada da Nike para a sustentabilidade, desde o escândalo de mão de obra infantil, até chegar no Making. A palestra foi gravada e disponibilizada no youtube. Apesar do tempo, ainda continua bem atual. Quem tiver interesse em assistir (modéstia à parte, vale bem a pena), basta acessar o link: https://www.youtube.com/watch?v=EYlvvGSyY68.

Sobre inovação em modelo de negócios, que é o meu grande xodozinho, parto da mesma lógica: não faz sentido esse nível de inovação sem levar em conta a sustentabilidade. Por exemplo: de que adianta as montadoras de carro buscarem a reinvenção do setor sem levar em consideração o modelo de servitização aliado à tendência de eletrificação e do próprio vehicle to grid (V2G)?

Pegando o gancho justamente da servitização, que é uma das maiores tendências da indústria do século XXI (alô galera, transformação digital entra em melhoria de processos, beleza?), é aqui que vejo a maior integração entre inovação e sustentabilidade. Citei acima o caso das montadoras de veículos, mas tem vários outros. Energia, por exemplo.

Um nicho que algumas distribuidoras estão entrando é o da gestão da minigeração de energia. Tipo: um prédio, um condomínio ou uma instalação industrial quer gerar a sua própria energia. A empresa é contratada para fazer o plano de geração e a gestão da energia produzia buscando a maior eficiência possível no menor custo... tudo isso tendo como pano de fundo a energia limpa e renovável.

Enfim, apesar de a maioria esmagadora das empresas estar entrando agora no que eu chamo de sustentabilidade 3.0, que é o da melhoria de processos, o futuro está na integração inovação e sustentabilidade num nível infinitamente mais sofisticado que passa pelo modelo de negócios. Não acredita? Espera e paga pra ver.


P.S. A imagem desde post remete à sexta onda de inovação, que é considerada a onda da sustentabilidade. As ondas de inovação foram uma teoria criada na primeira metade do século XX pelo economista austríaco Joseph Schumpter, que identificou que os super ciclos de inovação tiravam a economia do seu estado de equilíbrio. Escrevi sobre isso três anos atrás: http://www.sustentabilidadecorporativa.com/2017/04/sustentabilidade-e-sexta-onda-de.html



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